sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A traição



- Traidor! Isso é o que ele é!
- Calma.
-Calma?! Como? Por quê? Nós sempre estivemos juntos. E a nossa viagem? E o nosso pacto? Ele quebrou! Ele me traiu!
Ninguém conseguia acalmá-la. Estava desesperada, inconformada. Na verdade, ela e o marido eram o que se podia chamar de casal perfeito. Invejados por todos. Queridos por todos. Estavam casados há 25 anos. Desde então, mantinham um ritual de voltarem à cidade da lua de mel, ficarem no mesmo hotel e renovarem os votos de fidelidade eterna.
É claro que muita coisa aconteceu durante esses anos. Tiveram filhos. Mudaram várias vezes de endereço por circunstâncias diversas. Ela já foi morena, ruiva, castanha, loira em vários tons. Ele engordou e emagreceu uma dezena de vezes. Brigaram sim. Quando compraram o primeiro carro. Ela queria outra cor. A escolha dos móveis da casa também foi responsável por brigas entre eles. E os filhos? Nossa! Como brigaram por causa dos filhos. Mas na hora da decisão sempre decidiam estar juntos. Amavam-se e ponto final. Ninguém esperaria vê-los separados.
O constrangimento era geral. Os amigos, os filhos... O que dizer? Ela não os ouvia.
- Traidor! Miserável! O que eu vou fazer agora?
- Tenha paciência... isso tudo vai passar.
- Não. Não vai. Eu o avisei. Pedi a ele que se cuidasse...
- Homem é assim mesmo. Não pensa muito nas consequências.
- Ele não pensou em mim.O que eu vou fazer agora?
Não havia resposta. A indignação dela entristecia, cortava o coração de todos.
Impassível diante da cena, o marido vestido num terno preto, jazia no centro da sala, vítima de um infarto fulminante.
Quebrara o pacto. Deixara-a no meio do caminho.

2 comentários:

  1. Querida...muito bem escrito seu conto...a morte faz parte da vida... mas realmente é triste perder quem se ama tanto.
    Beijinhos...
    Valéria

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  2. Amo este texto. Ah! amo tudo que você faz!!!!!
    Um beijão.

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